Seja bem-vindo ao SUBMUNDO, e ao grande circo das redes sociais…
Nelas, a vida privada virou conteúdo. E nós somos os palhaços.
Um está dançando. Outro chorando e gravando um desabafo aos prantos. Outro dando uma lição de moral ao filho. A internet aplaude, muitas vezes condena; e haja tomates para jogar nos palhaços modernos!
Tem até cancelamento se você der um biscoito de maizena para seu bebê de 1 ano…
Como chegamos a isso?
Pegue seu café porque hoje vamos conversar sobre nosso desespero extremo e absurdo por atenção…
As trends e o like
Na mais nova trend da rede vizinha, uma mulher faz dancinha na frente do leito de sua filha, denunciando uma negligência médica.
Seu semblante é sério, mas os movimentos dos braços dançando desengonçados formam uma visão pitoresca que parece saída de algum filme tosco.
Não é sobre a denúncia da negligência. É sobre como ela decidiu fazê-la.
Mas afinal, quando foi que nossa vida virou um espetáculo que precisa ser mostrado do jeito que as redes sociais pedem?
Quando foi que passamos a mostrar fotos de agulhas nos braços, de momentos do parto de um filho ou do nosso choro ao término de um relacionamento?
Quando foi que deixamos de ter intimidades só nossas?
Passamos a espetacularizar tudo
Tudo virou um espetáculo.
Vídeos no banheiro, comendo, amamentando, chorando, celebrando, denunciando… E por aí vai.
Veja, eu não sou contra ter voz na internet, nem poder denunciar algo sério ou falar sobre uma experiência ruim que aconteceu na sua vida.
Eu sou contra a forma como as pessoas têm feito isso.
Até porque é insano pensar que, num momento de grande dor, por exemplo, alguém tenha cabeça para pegar o celular e gravar um vídeo chorando.
Do mesmo modo, como falar e ensinar algo a um filho, com o celular filmando ambos? Que tipo de educação é essa?
Imagine a cabeça da criança… O pai/mãe vai dar uma bronca, lição de moral, o que for, mas antes, pega o celular e começa a filmar?
O que significa isso? De onde vem essa necessidade?
O triste desespero pela atenção
Parece que, quanto mais bizarro o vídeo, mais atenção ele conquista.
O negócio está tão louco que, esses dias, vi uma adolescente que, segundo ela, tinha acabado de ser expulsa de casa, e estava se maquiando, chorando e contando o que tinha acontecido para quem quisesse ver.
E eu só consegui me perguntar por que ela estava fazendo aquilo.
Curtidas? Visualizações? Dinheiro? Atenção?
O que há de tão especial nesse aparelho celular que tem seduzido as pessoas a esse ponto?
Sabe, antes que você pense que sou contra a internet e as redes sociais. Eu não sou, de maneira alguma.
As redes trouxeram inúmeras coisas boas e conseguimos encontrar vários conteúdos interessantes nelas. E, claro, temos o direito de contar e mostrar o que quisermos (por enquanto, rs)…
Mas precisamos escolher COMO contar o que desejamos contar.
Afinal, existe uma diferença BRUTAL entre o vídeo de uma moça que, recomposta e falando de um jeito seguro, compartilha o término ruim de um relacionamento, e outra que, totalmente desestabilizada, chora e se revira em cima de uma cama.
No primeiro vídeo, ela consegue compartilhar valor ao contar seus aprendizados, o que não foi legal na relação. Agora, o segundo eu realmente não vejo sentido.
Espetáculo à la Show de Truman: quanto vale a sua vida?
Ao compartilhar nossa rotina, estamos colocando pessoas na nossa casa. Pessoas que sabem o que comemos, vestimos, quando saímos, o que nossos filhos fazem, como nos divertimos.
E está tudo bem fazer isso com consciência…
Mas não dá para esquecermos que muita gente não torce por nós e, quando mostramos tudo, damos abertura para que falem, palpitem, para que se intrometam.
Tento entender influenciadores que trabalham dessa forma, “vendendo” suas próprias vidas, e ganham bastante com isso. Virginia Fonseca é um exemplo…
No entanto, eu não sonharia em ter de compartilhar detalhes da minha vida com todo o país para chegar onde ela chegou.
Afinal, podemos até ganhar dinheiro sim, mas e o que perdemos? Quando falaremos a respeito?
Privacidade é o novo luxo
Precisamos refletir que nem tudo precisa ser compartilhado…
Está tudo bem você tirar uma foto e guardar no seu álbum pessoal ou mostrar só para seus amigos mais próximos e familiares.
Está tudo bem você passar por uma experiência ruim e se recuperar primeiro, antes de postar alguma coisa na internet.
Ter seus segredos também é saudável; preserva quem nós somos. Nem tudo precisa virar um espetáculo.
Afinal, o que contamos e como contamos diz bastante sobre nossa própria personalidade. E pensar antes de postar é o mínimo.
E nos resguarda de muita coisa.
No fim, acabamos como palhaços de algoritmos cada vez mais sádicos, fazendo dancinhas ridículas e expondo nossas vidas a troco de migalhas digitais. Atuamos como bonecos sem cérebro.
Agora estou curiosa: você está no palco… Ou dos bastidores? Pense nisso antes do próximo story e responda este e-mail comentando sobre a edição de hoje.
Antes de sair, apague a luz.
Até semana que vem.
É deprimente pensar que poucos lerão e acordarão, a parte mais difícil.
Mas é um trabalho louvável dizer todas essas verdades
O mundo se perdeu numa curva tecnológica quando podia estar usufruindo de maneira produtiva e saudável.
Estamos indo outra vez na contra mão da história.
Futuras gerações farão seus registros do estrago. Lamentável!